Carnaval em Juiz de Fora
Por Renan
Alexandre Ligabo de Carvalho
Victor de Oliveira Rosa
Victor de Oliveira Rosa
Introdução
O
Carnaval em Juiz de Fora remete-se à fundação histórica da cidade. A
festividade passou por inúmeros momentos, desde o Entrudo até os desfiles das
Escolas de Samba. O Carnaval é composto também pelos tradicionais blocos
carnavalescos, que fazem parte da estrutura deste evento. Abaixo será traçado
um panorama da festividade na cidade.
Os
primórdios
Desde o
surgimento do povoado de Santo Antônio do Paraibuna, em 1820, a forma de se
brincar o Carnaval no Brasil foi agregada pelos moradores desta região. O
tradicional entrudo, prática trazida pelos colonizadores portugueses,
animavam os foliões. Nas palavras do escritor juiz-forano Pedro Nava “(...) mas
o bom mesmo era o entrudo. Havia instrumentos aperfeiçoados para jogar água
(...) que, quando apertados, deixavam sair um delicado esguicho de água
perfumada (...). Havia os revólveres – seringas que imitavam forma de água –
cano metálico e o cabo de borracha que se apertavam, apontando quem se queria
molhar. Os limões de todos os tamanhos e cores que eram preparados com semana
de antecedência e em enorme quantidade. Continham água-de-cheiro, água pura,
água colorida, mas os que nos caiam da sacada do Barão vinham cheiros de água
suja, de tinta, de mijo podre (...).” (Revista Em Voga, 1989 – citação de Pedro
Nava em 1907)
Como
descrito na citação de Nava, a manifestação do entrudo em Juiz de Fora tinha
seu caráter de mau gosto com algumas brincadeiras hostis, mas, ainda assim, não
chegava a apresentar o grau de violência encontrado, por exemplo, no Rio de
Janeiro. Muito criticado pela mídia crescente, “(...) em 1889, o jornal local O
Farol noticiava o fim do entrudo em Juiz de Fora.” (COIMBRA, 1994)
Também no
ano de 1889, foi criado o clube dos Valapuquistas, primeiro clube de grande
sociedade, que se apresentou no mesmo ano com cinco carros abertos, em um
ousado corso para a época. Tal prática que terá seu auge nos anos de
1930 e parte dos anos 1940 consistia em “(...) carros conversíveis (de capota
dobrável ou removível), em fila única e marcha lenta, um quase colado ao outro,
formava um imenso cortejo que circulava durante horas e horas pelas ruas
centrais, praticamente amarrados uns aos outros por coloridas pontes
de serpentinas – e ocupados por blocos de foliões fantasiados, que cantavam os
sucessos do ano (...).” (Revista Em Voga, 1989) Como temas para o desfile do
corso, as grandes sociedades faziam alusão aos problemas da época, dotando o
desfile de um cunho social.
Desenvolvimento
Ao final
da década de 1930, até a década de 60, pode-se dizer que o auge do Carnaval
mudou de foco e a festa nos clubes pairou sobre Juiz de Fora. Além dos
tradicionais Clube Juiz de Fora, Sport, Clube Bom Pastor e Dom Pedro II, os bailes
carnavalescos se expandiam para todo o lado, incluindo o Clube dos Planetas,
dos Grafos, do Elite, Tupynambás, Tupi, Associação do Empregados do Comércio e o
Círculo Militar.
Foto: Blog Maria do Resguardo |
Alguns
destes blocos cresceram tanto que se tornaram raízes de Escolas de Samba da
cidade, fato observado pelo bloco “Feito com Má Vontade”, atualmente Escola de
Samba Turunas do Riachuelo e com o bloco “Cordão do Arado”, que deu origem à
Escola de Samba Castelo de Ouro.
Como o
movimento dos blocos e similares era organizado por classes populares, havia
uma tendência de creditar aos seus foliões a alcunha de marginais. Buscando se
livrar desta imagem estereótipa, os grupos de sambistas da época tentaram
oficializar estas manifestações, dando início à criação das primeiras Escolas
de Samba. Em 1934 é fundada a Turunas do Riachuelo, primeira Escola de Samba de
Minas Gerais e quarta do Brasil. Em seguida surge a Feliz Lembrança (1939) e na
década seguinte, em 1947, é criada a Castelo de Ouro.
A festa do Carnaval começou a se expandir pela cidade. O que contribuiu enormemente para isso foram as chamadas batalhas de confete, onde escolas de samba mostravam seus sambas de improviso nos dias que antecediam o Carnaval. A grande rivalidade eram as batalhas da Rua Marechal e da Rua Halfeld. Como havia diversos concursos em área distintas da cidade, as batalhas de um bairro e a de outro não tinham nenhuma ligação e, por vezes, a Escola podia ser campeã em locais diferentes. (Revista Em Voga, 1989).
A festa do Carnaval começou a se expandir pela cidade. O que contribuiu enormemente para isso foram as chamadas batalhas de confete, onde escolas de samba mostravam seus sambas de improviso nos dias que antecediam o Carnaval. A grande rivalidade eram as batalhas da Rua Marechal e da Rua Halfeld. Como havia diversos concursos em área distintas da cidade, as batalhas de um bairro e a de outro não tinham nenhuma ligação e, por vezes, a Escola podia ser campeã em locais diferentes. (Revista Em Voga, 1989).
Nos anos
que se seguiram era costume as Escolas se enfrentarem em desfiles calcados no
improviso de sambas. Além dos sambas previamente compostos pela ala de
sambistas de cada Escola, uma comissão julgadora determinava um tema e, pouco
tempo depois, os sambistas apresentavam a música que haviam acabado de compor.
Seguiam-se vários sambas que se tornavam “(...) uma verdadeira prova de fogo
para qualquer expert (...).” (COIMBRA, 1994).
No entanto, o Carnaval juiz-forano ainda tinha
nos clubes uma alternativa para diversão da chamada alta sociedade. Eram
diversos bailes temáticos, sendo o mais conhecido, o Baile dos Casados,
realizado no Palace Hotel, onde todos compareciam mascarados e os costumes da
época eram deixados em parte de lado, já que “(...) durante as voltas no salão,
os pares se redescobriam. Às vezes não.” (COIMBRA, 1994) Segundo João Medeiros
Filho (Revista Em Voga, 1989), nos “(...) dias de Carnaval à tarde (...) os
clubes organizavam seus bailes mais avançados, ou seja, as gatinhas,
(mulheres que se escondiam sob máscaras, geralmente da alta sociedade) se
divertiam com os coroas que, ávidos, partiam em busca de novas emoções
durante o Carnaval – o que de certa maneira era permitido pelas tradicionais
famílias e mesmo esposas exclusivistas (...).”
Em
entrevista ao site Acessa.com, no ano de 2005, o radialista da cidade Mário
Moraes define bem o carnaval de bailes em sua época áurea: “Foi nos anos 50 e
início da década de 60 que os bailes tiveram seu apogeu. Nós, da rádio,
fazíamos transmissão ao vivo dos bailes da cidade, principalmente os do Sport
Club e do Clube Bom Pastor. A (...) decadência das festas de carnaval nos
clubes ocorreu porque as pessoas migraram para as escolas de sambas,
influenciadas pelo carnaval carioca (...).”
O apogeu
Foto: Blog Maria do Resguardo |
Até meados da década de 1960, não existia um concurso oficial do Carnaval juiz-forano. As escolas se apresentavam com o único intuito de alegrar o público, utilizando-se de vários sambas, porém nenhum fazendo alusão ao enredo. Para as fantasias, utilizavam-se excessivamente o estereótipo do malandro carioca e das baianas, destacando apenas o mestre-sala e a porta-bandeira.
Toda esta
tradição começou a mudar a partir do ano de 1966, quando aconteceu o primeiro
desfile oficial do Carnaval da cidade, promovido pela administração municipal,
através do extinto Departamento Autônomo de Turismo. Neste ano a Escola Feliz
Lembrança venceu, apresentando um dos desfiles mais memoráveis da cidade, com o
enredo Mascarada Veneziana. Nas palavras de Gilson Campos, grande
compositor de sambas da cidade, pode-se compreender a grandiosidade deste feito
(Revista Em Voga, 1989):
“Nestes
mais de 40 anos de Carnaval, lembro-me que o melhor vivido por mim foi o de 66,
quando a Feliz Lembrança veio com o enredo Mascarada Veneziana, arrebentando em
termos de música, letra, enredo e desfile (...) sob a batuta do maestro Nélson
Silva, foi um carnaval que empolgou o público (...)”.
“A Feliz Lembrança inaugura uma nova fase no
Carnaval: a do enredo trabalhado, em toda sua plenitude e com figurinos fora do
tradicional (...) uma verdadeira ópera popular.” (Revista Em Voga, 1989) “Pela
primeira vez na cidade, uma Escola de Samba apresentou um carro alegórico. E
não era qualquer carro: o Gran Finale do desfile apresentava uma piscina
móvel com uma gôndola flutuando, em tamanho original. A música especialmente
composta para o enredo apresentava elementos do samba-enredo, como o tom épico
e a narrativa extensa. As fantasia acompanhavam os motivos do desfile.”
(COIMBRA, 1994)
“A década
de 1970 marcou nesta história a retomada da grande força das Escolas e blocos.
Nos últimos sete anos as atividades vem consolidando sua força e hoje já é
lícito admitir que elas reduziram ao mínimo o brilho das grandes festas nos
clubes.(...)” (DIÁRIO MERCANTIL, 20/02/1977).
“Redimensionado,
a partir de 1977, quando ganhou arquibancadas metálicas, decoração e iluminação
especiais, o Carnaval de Juiz de Fora foi, um ano depois, reconhecido oficialmente
pela Empresa Brasileira de Turismo – Embratur, que passou a relacioná-lo no
calendário nacional. No ano passado (1979 – grifo nosso), com o mesmo
incentivo e apoio da administração municipal, nosso Carnaval ficou entre os
três melhores do país e o maior de Minas Gerais, de acordo com pesquisa e
classificação da Riotur, um dos maiores órgãos de coordenação e promoção
turística.” (Revista Oficial do Carnaval JF, 1980)
Ainda em 1977, a prefeitura municipal preparou e distribuiu na cidade e região, 20 mil folhetos informativos sobre os eventos do Carnaval em Juiz de Fora. Além de grandes anúncios da festa divulgados no Jornal Diário Mercantil, o Carnaval contou com um patrocínio cuja marca ficava exposta no logotipo da festa. Tal prática de patrocínio permaneceria por mais alguns anos, contribuindo para fortalecer as bases deste evento.
Ainda em 1977, a prefeitura municipal preparou e distribuiu na cidade e região, 20 mil folhetos informativos sobre os eventos do Carnaval em Juiz de Fora. Além de grandes anúncios da festa divulgados no Jornal Diário Mercantil, o Carnaval contou com um patrocínio cuja marca ficava exposta no logotipo da festa. Tal prática de patrocínio permaneceria por mais alguns anos, contribuindo para fortalecer as bases deste evento.
O ano de
1978 deu uma prévia de como seria um Carnaval bem organizado. Segundo a
prefeitura, para o ano seguinte, esta festa tradicional seria melhor
estruturada, “(...) com trabalhos começando em março e início da divulgação
(com cartazes e toda a propaganda envolvendo a festa) em setembro deste ano.”
(DIÁRIO MERCANTIL, 09/02/1978).
Foto: Acessa.com |
Como uma
jogada de marketing, a administração municipal lança campanha na mídia
nacional, divulgando o Carnaval de Juiz de Fora como o 2° melhor do país.
Alguns dos produtos desta campanha foram a gravação do primeiro LP com os
sambas-enredos de oito das Escolas de Samba do primeiro e segundo grupos, e a
transmissão dos desfiles de Carnaval pela Rádio Sociedade, em 1979. Esta
estratégia surtiu tamanho efeito, que cerca de um mês antes do Carnaval, os
ensaios das Escolas de Samba da cidade se apresentavam lotados, com ingressos
esgotados. (DIARIO MERCANTIL, 06/02/1979) Até mesmo colunistas sociais, que
praticavam certos questionamento acerca de aspectos sócio-econômicos da cidade
se rendiam ao esplendor do Carnaval, como Carlos H. Ângelo no Diário Mercantil
de 14 de dezembro de 1981:
“(...)
Uma cidade pobre com seus trezentos e poucos mil habitantes, sem recursos, mais
que se mete a ter o segundo Carnaval do país, em termos de desfiles de escolas
de samba. Os desfiles de escolas paulistas não são considerados porque quem
já ouviu falar de sambista em São Paulo?”
Em 1980,
mesmo com a falta de recursos (fato observado também em anos anteriores), Juiz
de Fora conseguiu grande sucesso na execução desta festa tradicional. Com a
ajuda da empresa carioca COPROEX – Companhia de Projetos Executivos,
responsável por toda a organização, exploração de serviços e coordenação de
parte executiva dos desfiles, o Carnaval da cidade logrou o êxito desejado. A
organização foi muito elogiada pelo público e imprensa, desde a montagem da
infra-estrutura (taxada com confortável e visualmente agradável) até a execução
de eventos paralelos pré-carnavalescos, como o realizado para crianças no
Parque Halfeld. (DIARIO MERCANTIL, 09/02/1980) O colunista social Décio Cataldi
teve a seguinte visão sobre a festa:
“Há
alguns anos nada tínhamos no Carnaval de rua. Aliás, era um fracasso total. De
súbito, a Rio Branco passou a apresentar o maior show carnavalesco de Minas
Gerais. (...) Vamos ver como ficarão as coisas, pois o sucesso da festa na rua
virou verdadeira psicose.” (DIARIO MERCANTIL, 10/02/1980).
Foto: Blog Maria do Resguardo |
O Jornal
da época, Diário Mercantil (15/02/1980), considerou dois problemas na execução
desta festa no ano de 1980. O primeiro trata do regulamento da competição dos
desfiles, onde as escolas do primeiro grupo desfilam duas vezes, sendo que
somente o segundo dia era avaliado. Este quesito pode ser considerado falho na
media em que as agremiações não se empenhavam em realizar um bom desfile no
primeiro dia, deixando para o segundo sua empolgação máxima. Outro problema foi
o da presença de cambistas na venda de ingressos da arquibancada, o que inflacionava
o preço final. Tal problema só seria sanado no Carnaval de 1984, onde a venda
de ingressos foi restrita a três por pessoa.
Já no ano
de 1981, o então prefeito Mello Reis decide criar o Departamento de Promoções –
DEPROM, que tinha por objetivo desenvolver as atividades de lazer e turismo. A
principal função deste departamento era a de organizar, promover e desenvolver
o Carnaval na cidade. Várias ações foram tomadas e dentre elas, pode-se citar
as melhorias na iluminação na área dos desfiles, a alocação destes na Avenida
Francisco Bernardino e distribuição de prêmios aos foliões e aos blocos
carnavalescos, a fim de incentivá-los a brincar o Carnaval. Tal iniciativa não
se mostrou eficaz, visto que neste ano houve uma queda considerável nas reservas
em hotéis e o Carnaval já não atraiu tantos turistas. (DIÁRIO MERCANTIL,
19/02/1981) Muitos jornalistas da época creditaram a culpa deste insucesso à
mudança do local do desfile.
1982 foi
o ano da redenção: “Terceiro do país e melhor de Minas, o Carnaval de Juiz de
Fora neste ano de 1982 repete o mesmo sucesso que vem alcançando nestes últimos
cinco anos. (...) Para o prefeito Mello Reis, o Carnaval – como festa popular
de maior expressão – não pode ficar sem o decisivo apoio dos poderes públicos,
uma vez que todo e qualquer sacrifício feito para sua organização é
perfeitamente gratificante no momento dos desfiles, coroados de brilho, luzes,
cores e muito samba. (...) Este ano, o Carnaval aparece pela primeira vez na
Avenida Getúlio Vargas, mas com a mesma beleza e organização que o consagraram
na Avenida Rio Branco”. (Fernando Rainho, Revista do Carnaval JF, 1982) A
decoração foi entregue ao artista plástico Carlos Mirando (Ratinho), que, tendo
por base o tema Gran Circo, utilizou uma grande quantidade de material
(25 toneladas de madeira, plástico, 10 mil metros de fio, 14.300 lâmpadas,
empregando 40 profissionais, totalizando Cr$ 27 milhões em investimentos).
(Revista Oficial do Carnaval JF, 1982).
Para o
presidente da Comissão Organizadora do Carnaval e Secretário de Governo,
Fernando Rainho, o êxito dos festejos de Juiz de Fora é garantido
antecipadamente pelo entusiasmo das Agremiações, pela criatividade dos
compositores e sambistas e pela dedicação especial dos dirigentes de Escolas de
Samba e blocos carnavalescos. Um outro fator catalisador do sucesso do Carnaval
de rua de Juiz de Fora era a importância dado a ele pela imprensa local.
Percebe-se que o extinto Diário Mercantil realizava um espécie de contagem
regressiva para a festa, com manchetes e reportagens de páginas inteiras,
fazendo com que o leitor sentisse um desejo em participar da festa.
O
declínio
Em 1984
os rumos do Carnaval juizforano começaram a mudar. Embora tenha havido um
projeto de se mudar a fórmula do Carnaval de rua da cidade, com mais opções de
entretenimento para a população e apenas um dia de desfile, a FUNALFA –
Fundação Alfredo Ferreira Lage – com receio na inovação, não realizou nenhuma
mudança. Na tentativa de captar recursos, as Escolas de Samba realizaram Batalhas
de Confetes antes da festa em si, caso observado pela Escola Real Grandeza.
(TRIBUNA DE MINAS, 18/02/1984) A crise financeira, além de afetar como de praxe
as Escolas, agora afetava também os clubes, que em sua maioria não realizou
bailes este ano.
Em 1986,
muitas das escolas mais tradicionais do primeiro grupo da cidade não
desfilaram, o que contribuiu para o enfraquecimento do desfile perante o
público. Ainda assim, o povo tomou as ruas da Avenida Rio Branco, divertindo-se
com os trios elétricos e desfiles de fantasia em carro aberto. (Revista Oficial
do Carnaval JF, 1986) Toda essa situação aconteceu em decorrência de diversos
fatores, que vão desde crises internas nas agremiações, passando pelas chuvas e
chegando até a falta de apoio do comércio (de bares, restaurantes e rede
hoteleira), dos empresários, da imprensa e público (ambos somente lembram das
Escolas na época do Carnaval). Esse aglomerado de complicações ocasionaram o
início do declínio do Carnaval da cidade. (TRIBUNA DE MINAS, 02/02/1986).
A
realidade do Carnaval juizforano foi muito bem descrita por José Carlos Passos,
então presidente da Escola de Samba Turunas do Riachuelo:
“(...) O
Carnaval de Juiz de Fora já foi melhor, não pela parte financeira – que sempre
foi pequena. (...) Um bom carnaval atrai turistas, gera divisas. É uma festa de
luxo e riqueza. Agora, sem decoração e sem escolas do primeiro grupo desfilando
a situação fica difícil. O Carnaval acaba ficando sem graça.” (TRIBUNA DE
MINAS, 04/02/1986)
O dia 21
de dezembro de 1988 foi marcado como o divisor de águas entre o Carnaval
dos tempos áureos e a atualidade medíocre. Nesta data foi marcada uma reunião
entre os representantes das agremiações carnavalescas e o prefeito eleito,
Alberto Bejani, para decidir os rumos do Carnaval do ano seguinte. Ainda não
organizados, os presidentes das escolas tentaram, em vão, adiar a reunião;
porém, o prefeito já havia encerrado as negociações e não liberou as verbas
para os desfiles do primeiro grupo.
Na
realidade, durante a administração da cidade, entre 1989 e 1992, o Carnaval de
Juiz de Fora sofre seu maior descaso por parte do poder público. Durante este
período, não houve desfiles oficiais, e o maior atrativo da cidade foi se
desfigurando perante turistas, visitantes e própria população local. Com relação
a isso, o prefeito da época, Alberto Bejani, justificou a falta de incentivo
público ao Carnaval, em decorrência da crise econômica que assolava o país e
que culminou com apenas 45% da cidades brasileiras realizando esta festa.
(dados disponibilizados por Alberto Bejani, em 1990, no artigo Alegria e
Respeito)
Com argumentos orçamentários, o poder público justificou sua não-participação, argumento este usado também pelas Agremiações. A conclusão é simples: o carnaval de 1989 ficou conhecido como o “Carnaval do fracasso” e como sendo o pontapé inicial para o declínio posterior.
Com argumentos orçamentários, o poder público justificou sua não-participação, argumento este usado também pelas Agremiações. A conclusão é simples: o carnaval de 1989 ficou conhecido como o “Carnaval do fracasso” e como sendo o pontapé inicial para o declínio posterior.
Em 1990,
através de um plebiscito, o povo escolheu que o desfile retornasse à Avenida
Rio Branco entre as ruas Floriano Peixoto e Espírito Santo. Neste ano, mesmo
com todos os problemas, houve um retorno ao antigo projeto de gravação do LP
dos samba-enredos das Escolas de Juiz de Fora, inovando com o lançamento
programado para antes do Carnaval. A inovação ficou por conta da transmissão ao
vivo dos desfiles pelo SBT/ TV Tiradentes, canal 10, na terça-feira de
Carnaval. Quatro clubes da cidade, visando uma atratividade maior para seus
bailes carnavalescos, criaram anúncios divulgando suas festas e dando destaque
para a padronização dos preços, captando público com outra motivação aquém a
esta.
O ano de
1993 foi marcado pela realização de um desfile não-oficial das Escolas de
Samba. A Funalfa organizou uma série de eventos pré-carnavalescos, que se
iniciou com o Arrastão da Alegria, um desfile animado por uma banda,
realizado no Parque Halfeld, uma semana antes da folia oficial. O desfile das
Escolas ocorreu em dois dias, domingo e terça-feira de Carnaval, pelas mesmas
Agremiações, cabendo ao segundo dia a presença da Escola de Samba do Rio de
Janeiro Mocidade Independente de Padre Miguel. Neste ano de 1993 a premiação
foi oferecida pela imprensa local, que elegeu os melhores de cada categoria.
(TRIBUNA DE MINAS, 19/02/1993).
Já em
1994, no governo de Custódio Mattos, tentou-se uma saída para a crise que se
instaurou no Carnaval. A prefeitura investiu em infra-estrutura e divulgação,
buscando atrair o visitante e dotar a cidade de uma diversão saudável. Porém,
vale ressaltar, que não foram disponibilizadas verbas às Escolas de Samba,
cabendo a estas o dever de capitalizar seus próprios recursos.
Em 1996,
“(...) 1997 e 1998, os desfiles oficiais das Escolas de Samba (...) aconteceram
na Avenida Brasil. Em 1999, devido a dificuldades financeiras enfrentadas pela
prefeitura, as Escolas não desfilaram e a Funalfa promoveu um Carnaval popular
alternativo, com desfiles de blocos, bandas e bailes populares. Mas, em 2000, a
magia do Carnaval retornou à Avenida Rio Branco, transformando o centro da
cidade em um palco de emoções. (...) Paralelamente aos desfiles oficiais, a
Funalfa promoveu, no Terreirão do Samba, bailes populares com grupos locais e
artistas convidados (...) que reuniram, durante os quatro dias, um público
superior a 50 mil pessoas (...)”. (BARRAL, 2004, p.45).
Um ponto
de destaque no Carnaval de 2000 foi o apoio dado pela CDL – Câmara dos
Dirigentes Lojistas, que realizou campanha para que os juiz-foranos ficassem na
cidade durante a folia. Esse suporte causou resultados, visto que lojas do ramo
carnavalesco tiveram um incremento de 50% em suas vendas em relação a 1999.
Além disso, dois grandes hotéis da cidade, César Park e César Palace, montaram
um pacote, que incluía um camarote nos dias dos desfiles, divulgando a cidade
nas principais cidades do Sudeste do Brasil.
A
realidade Contemporânea
Nos
primeiros anos do novo século, Juiz de Fora não inovou na apresentação de seu
Carnaval, mas conseguiu manter um nível satisfatório, ao menos para sua
população residente. No entanto, notou-se que a festa já não era mais a mesma,
principalmente pelo número de componentes das Escolas, queda observada alguns
anos depois. De acordo com o jornal Diário Mercantil (04/02/1979) a Agremiação
Acadêmicos do Manoel Honório possuía cerca de 1200 integrantes no ano de 1979;
já no ano de 2005, a Escola contava com apenas 600 foliões (FUNALFA, 2005). O
mesmo ocorreu com a escola Turunas do Riachuelo, que em 1980 possuía 2000
integrantes (DIÁRIO MERCANTIL, 09/02/1980) e em 2005, esse número se reduziu a
1000 integrantes (FUNALFA, 2005).
Em 2004
houve o resgate do Concurso de Fantasias, com um total de prêmios estimado
em “(...) R$8.000,00. A Prefeitura também inovou ao realizar o Baile Oficial
no sábado de Carnaval, em plena Rio Branco. (...) Desde a criação do Troféu
Pandeiro de Ouro, diversos carnavalescos, entidades e foliões foram
homenageados pela Funalfa. (...)” (BARRAL, 2004, p.47) Com o Carnaval
acontecendo na Avenida Rio Branco já há cinco anos consecutivos (algo raro na
história do Carnaval juizforano), a antiga discussão sobre a viabilidade da
realização do espetáculo das Escolas de Samba na avenida principal da cidade
veio a tona. Em meio a várias opiniões contrárias ou favoráveis, Maria Barral,
num caderno anual da Funalfa, tenta descrever a importância de tal avenida para
o Carnaval juizforano:
“Os
transtornos causados pela montagem das arquibancadas, com uma rapidez
espantosa, podem afetar um pouco o fluxo de trânsito na artéria principal da
cidade, mas não provoca um colapso e revigora o pulsar alegre do cidadão do
samba, apaixonado e resgatado pelo ato cidadão e de inclusão: sou o dono da
cidade...” (BARRAL, 2004, p.48)
Numa
época em que reina a inversão, tão esplanada por Roberto da Matta, por que não
se deixar influenciar por esta máxima e inverter o trânsito para um bem
maior... para um bem social... aliás, o que melhor para uma prefeitura do que proporcionar
circo ao povo, já que falta o pão? Esse era o pensamento de grande parte dos
que apoiavam a realização da festa na Avenida Rio Branco.
2005 foi
um ano de transição entre a administração do prefeito Tarcísio Delgado e
Alberto Bejani e, portanto, a festa ocorreu sem modificações aos anos
anteriores. No entanto, em entrevista ao site Acessa.com, em janeiro do mesmo
ano, a superintendente da Funalfa Érica Delgado comentou a respeito do trabalho
pensado pelo prefeito eleito:
“(...)
Tudo que a gente pensa em fazer, como trabalhar com as escolas de samba durante
o ano todo, motivando-as, se dará em um processo longo, que só poderemos
implementar em 2006, e além disso, (...) o prefeito vem falando nisso
seguidamente, sim, porque reconhece essa necessidade (...) é desejo do prefeito
que, a partir do ano que vem, já exista um sambódromo (...)”
Quanto ao
Carnaval dos clubes, não se observa um projeto concreto para seu resgate, já
que se encontram expostos às intempéries do sistema. Segundo Edson Reis, presidente
do Esporte Clube Benfica, em entrevista ao site Acessa.com, em fevereiro de
2005:
“Mas os custos são muito altos, principalmente em relação à cobrança dos direitos autorais feita pelo Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). Além disso, o movimento axé e os trios elétricos tiraram os Carnavais dos clubes. O Ecad cobra caro e a freqüência é pequena. O clube não tem como arcar com todas as despesas (...).”
“Mas os custos são muito altos, principalmente em relação à cobrança dos direitos autorais feita pelo Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). Além disso, o movimento axé e os trios elétricos tiraram os Carnavais dos clubes. O Ecad cobra caro e a freqüência é pequena. O clube não tem como arcar com todas as despesas (...).”
Neste ano
de 2006, a Liga das Escolas vem com uma nova iniciativa, de dar espaço a
projetos de inclusão social realizados pelas Escolas de Samba. Será realizado
um desfile, de duas Escolas mirins – “Estrelinha de Davi” e “Princesinha de
Minas” – atreladas às Escolas Juventude Imperial e Unidos do Ladeira,
respectivamente. Além disso, continuam os desfiles dos grupos 1A e 1B, seguidos
dos desfiles de avaliação. A principal mudança foi, novamente, em relação ao
local do desfile que agora passou a ser na Avenida Brasil, na altura do Museu
Mariano Procópio, o que despertou manifestações contrárias e a favor.
Segundo a
Superintendente da Funalfa, Érika Delgado, o custo total do carnaval 2005 para
a Prefeitura foi R$ 684 mil, sendo que R$ 300 mil foram repassados à Liga das
Escolas de Samba e distribuídos entre as escolas e os outros R$ 384 mil foram
para a Funalfa, para que toda a infra-estrutura da avenida fosse montada, além
de dar apoio a blocos e bandas da festa. (ACESSA.COM, 01/2005) Já em 2006, a
prefeitura promete gastar R$ 300 mil com estrutura e R$ 470 mil com as Agremiações,
num total de R$ 770 mil. (JORNAL PANORAMA, 05/01/2006).
Foto: Jornal Tribuna de Minas |
Este
texto foi feito pelos alunos de Turismo Renan Alexandre Ligabo de Carvalho¹
e Victor de Oliveira Rosa² e faz parte do Trabalho de Conclusão de Curso
da Universidade Federal de Juiz de Fora, do 2° semestre de 2005, intitulado
“Carnaval das Escolas de Samba de Juiz de Fora: Análise e tendência em 40 anos
de inconstância...”. As referências bibliográficas constam no trabalho.
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